Para quem pensa que a filosofia é só para académicos, engana-se.
Em toda a minha existência sempre me deparei com duas expressões tipo: "A filosofia não serve para nada!" ou "A filosofia está sempre presente no nosso dia-a-dia."
Na verdade, hoje em dia também tenho a minha opinião, nomeadamente desde que trabalho como formadora de Cidadania e Profissionalidade no Processo de RVCC.
Sem tocar em filosofias e filósofos, a filosofia vem até mim através de pessoas experientes em que a sua escola foi a vida. Aquando confrontadas com a palavra filosofia, só exclamam: “Por favor, isso não!”. Na realidade têm razão, a filosofia não passa de um bicéfalo, algo intocável, inatingível, e num mundo cada vez mais competitivo como o nosso, será que a filosofia serve realmente para alguma coisa?
Mas a posteriori, o que venho a constatar é que é pela mão dos meus Adultos que a filosofia chega novamente até mim. Quando os confronto com as competências que adquiriram ao longo das suas vidas as respostas são: “Eu não aprendi nada!”; “Eu não sei nada!”; “Eu exerço a mesma profissão há vinte anos!”, neste momento sou tentada a realizar uma comparação. Apesar de catalogarem-se de desconhecedores, a sabedoria está em todos eles, grandes sábios com tanto para nos ensinar. Faz lembrar o velho lema de Sócrates “Só sei que nada sei!”.
Cada Portefólio, cada Autobiografia, estão carregados de reflexões filosóficas, com as quais eu me deleito enquanto vagueio pelas suas histórias de vida. Deparando-me com reflexões éticas, às quais Aristóteles, Kant, Stuart Mill, entre outros, ficariam boquiabertos.
Uma das questões que é constantemente abordada é a questão da moral. Como se encontra a moral nos dias de hoje? Constatamos que os valores são mutáveis, mas quererá isto dizer que a moral acabou? Esta é uma questão pertinente pois, para muitos a moral acabou, mas na realidade, o que verifico junto dos meus Adultos é que estamos numa época em que a vida social está em rápida mutação, em que a transformação dos costumes é acelerada. A moral não acabou, as normas tradicionais é que caíram em desuso. Pois se a moral consiste em sermos uns com os outros, só somos sujeitos morais, quando estamos atentos à alteridade (aos outros). Temos de abraçar os outros (humanos, animais, ambiente), pois são estes que nos permitem assumir a nossa dignidade enquanto pessoas. A pessoa constrói-se na relação de reciprocidade, de intercâmbio de ideias, de valores, e de experiências. E isto ainda não acabou… Aliás, atrevo-me a dizer que isto é o RVCC.
Eu, com os “meus outros” (Adultos) tenho aprendido que “a filosofia não é um longo rio tranquilo onde cada um pode pescar à linha a sua verdade. É um mar no qual mil ondas se confrontam, onde mil correntes se opõem, se encontram, às vezes se misturam, se separam e se voltam a encontrar, opondo-se de novo… Cada um navega como pode e é a isso que chamamos filosofar.” Afinal, a filosofia não é mais do que a vida…
Texto de Mara Vagos
Formadora de CP
CNO Gustave Eiffel - AMADORA
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